O filme dedicado a Carlos Marighella é um marco na luta contra o apagamento histórico de grandes líderes negros. A trama dirigida por Wagner Moura conta a história do baiano, escritor, marxista-leninista, ativista político e guerrilheiro Carlos Marighella. O cenário do filme se passa durante a ditadura militar que teve início no ano de 1964. Esse regime político retirou dos brasileiros vários direitos civis alcançados durante vários anos e garantidos pela Constituição Federal, tais como a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, dentre outros. Ao longo da trama, pode-se perceber que o guerrilheiro não tem tempo para o medo, mesmo diante da opressão política autoritária e sua violência radicalizada. Na luta contra o regime militar, Carlos Marighella optou pela luta armada, pois não acreditava que se pudesse enfrentar a opressao política de forma pacífica.
Apesar do filme ter sido adiado algumas vezes, sua estreia finalmente aconteceu. A década de 60 foi um divisor de águas no que diz respeito às lutas por emancipação política. Na mesma época aconteceram vários movimentos emancipatórios ao redor do mundo, como, por exemplo, o movimento negro nos Estados Unidos e a revolução cubana. Já no Brasil, contra a ditadura que se implantou a partir de 1964, o patriota Carlos Marighella resistia bravamente, numa luta incansável, porém com um grupo muito pequeno de guerrilheiros, contra toda a máquina do exército nacional. Nos Estados Unidos, o movimento negro ganhava força, com vários líderes como Fred Hampton, Martin Luther King e Malcolm X, todos assassinados. Carlos Marighela, ao optar pela ação revolucionária violenta, decidiu-se pelo confronto direto com o regime da ditadura militar brasileira. A guerrilha, no Brasil, no entanto, após a morte de Marighella, não durou muito tempo. Dessa forma, atrevo-me a fazer uma alusão à ativista Angela Davis, que por muito tempo foi considerada a inimiga número 1 do FBI (Departamento Federal de Investigação), o que também aconteceu com o guerrilheiro baiano, que durante o regime militar chegou a ser apontado como inimigo número 1 do Brasil e uma ameaça à ditadura.
No filme, no decorrer da trama, percebe-se um pouco do pensamento de Marighella. Ele acreditava que a revolução brasileira não poderia ser realizada de forma pacífica. Insatisfeito com a presente situação da época, assim como Malcolm X, o guerrilheiro questiona alguns líderes que, acompanhando o pensamento da burguesia, defendiam a ideia de uma luta pacifica, tal como Martin Luther king. De acordo com Marighella, a luta armada desempenharia um papel fundamental no processo de criação de uma reforma profunda brasileira. Somente desse modo o país conseguiria chegar ao ápice do socialismo e, pela via revolucionária, como dizia Che Guevara, poderíamos criar 1,2,3... vários Vietnãs. É importante mencionar que Marighella fazia parte da ALN (Ação Libertadora Nacional), um grupo revolucionário de cunho comunista que atuou contra o regime militar. Um dos métodos usados pela ALN era a guerrilha urbana.
Parabenizo todo o elenco desse filme incrível, em especial a atuação de Seu Jorge, interpretando Carlos Marighella e também a direção de Wagner Moura. No entanto, vejo que por mais que essa biografia cinematográfica de Marighella seja uma conquista importantíssima, na minha visão, algumas lacunas não foram preenchidas! Me refiro à essência do pensmento de Marighella! Certo, ele era contra a ditadura, isso está claro, mas quais eram as suas propostas políticas para além disso? O que fez o guerrilheiro a adotar essa ideologia de guerrilha urbana? Falo isso, porque o filme nos faz pensar que a ideia da luta armada, defendida por Carlos, surgiu do nada. O que não é verdade! Nota-se também que a ALN poderia ter sido mais explorada na trama, para que pudéssemos ter uma ideia de qual foi o seu peso na época. O grupo de Ação Libertadora Nacional possuía reconhecimento mundial? Sua potência revolucionaria contribuiu para a consolidação da causa socialista? Vale ressaltar, que a biografia dedicada ao guerrilheiro baiano é sinônimo de resistência e reparação histórica, visto que por muito tempo Carlos Marighella foi esquecido e marginalizado. Poucos o conhecem. No entanto, por intermédio do filme, podemos agora saber que a “Revolução no Brasil tem um nome”!!!
LUDMILA TAVARES é acadêmica de direito da Faculdade Católica de Anápolis