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Cibele Saliba Rizek - 92 - Janeiro de 2003
Trabalhadores em apuros
Foto do(a) autor(a) Cibele Saliba Rizek

Afogados em Leis - A CLT e a Cultura Política dos Trabalhadores Brasileiros
John D. French
Fundação Perseu Abramo
(Tel. 0/xx/11/5571-4299)
128 págs., R$ 18,00

A legislação trabalhista, instituída em 1943, é analisada em seus paradoxos mais interessantes: seu caráter ao mesmo tempo "generoso e fraudulento", o hiato "quase esquizofrênico" entre a letra da lei e as práticas de trabalho, entre a lei e as instituições jurídicas que ela mesma instituiu. Trata-se de compreender como se vinculam o modo de formulação legal e a forma pela qual se percebem a lei, as ações e discursos que a tomam por objeto. Segundo French, essa legislação se constituiu como resposta a impulsos contraditórios e variáveis em cada nível da estrutura de poder, contribuindo para a existência "de um espaço que poderia ser e foi usado para a auto-organização e mobilização dos trabalhadores". Enfrentando temas clássicos, mapeando a complexidade desse marco legal das relações de trabalho no Brasil, o livro elabora um diagnóstico das relações entre a CLT e os trabalhadores brasileiros que, "depois de 1943, subverteriam na prática a "lei" existente por meio da luta para fazer da lei (como um ideal imaginário) uma realidade".

Do Corporativismo ao Neoliberalismo - Estado e Trabalhadores no Brasil e na Inglaterra
Ângela Araújo (org.)
Boitempo (Tel. 0/xx/11/3865-6947)
182 págs., R$ 22,00

Reconsideração da história das relações entre trabalho e Estado no Brasil, desfazendo matrizes canônicas de interpretação. Seu ponto de partida é o exame da instituição, longevidade e legitimidade da legislação trabalhista e sindical no Brasil, tema desenvolvido por meio da análise da história sindical. O leitor reencontra mais uma vez os enigmas e dilemas do marco legal de regulação do trabalho no Brasil, com a simbiose entre transformações e persistências, que se estendem até nossos dias. A coletânea ganha ainda uma perspectiva comparativa, por meio dos artigos de John McIlroy e de David Coates, que abordam duas formas de enfrentamento da questão sindical: a brasileira, em suas matrizes históricas e recentes, e a inglesa, a partir da guinada neoliberal.

Trabalho e Resistência na "Fonte Misteriosa" - Os Bancários no Mundo da Eletrônica e do Dinheiro
Nise Jenkings
Imprensa Oficial/ Ed. da Unicamp
(Tel. 0/xx/19/3788-7728)
402 págs., R$ 40,00

Três temas a destacar: as inovações tecnológicas, os novos padrões de acumulação do capital financeiro e o processo de feminilização do trabalho bancário, que combina velhas e novas formas de discriminação de gênero. Jenkins acompanha as lutas sindicais, explorando as grandes linhas de transformação que conduziram ao desmantelamento do sistema bancário estatal e ao fortalecimento do capital privado -o que desmontou os elementos de sustentação do sindicalismo bancário, nos anos 1990. A resposta sindical dos bancários acabou por se circunscrever às práticas de reação e resistência contra os novos modos de uso e controle do trabalho, naturalizados e fetichizados pelo emprego de tecnologias de base microeletrônica, que obscureceram os processos de concentração do capital privado. Na contramão desse movimento, o livro descortina esses processos e seus resultados para além da face fetichizada dos caixas automáticos e dos gigantescos e luxuosos edifícios que abrigam as transformações do trabalho no mundo do dinheiro.

Para (Re)Construir o Brasil Contemporâneo - Trabalho, Tecnologia e Acumulação
José Ricardo Tauile
Contraponto (Tel. 0/xx/21/2544-0206)
270 págs., R$ 27,00

Em texto didático e claro, o autor percorre a história das formas de uso do trabalho, desde a origem do capitalismo industrial até suas transformações contemporâneas, abordando em especial a constituição de novas bases tecnológicas e sua incidência sobre o emprego, tanto no âmbito mundial quanto em suas especificidades brasileiras. A análise dos anos mais recentes, com o sugestivo título "Da Década Perdida à Década Vendida", aponta as perspectivas brasileiras em um mundo dominado pelo capital financeiro e pelas novas tecnologias da informação, em que as relações diretas de dominação e controle parecem ter se desvanecido, cedendo lugar a relações supostamente horizontais de "parceria" e "colaboração". Tauile ousa recolocar os temas da acumulação do capital e de sua contrapartida no cerne da discussão da economia brasileira e, por consequência, das formas da cidadania e da sociabilidade e suas perspectivas no Brasil.


CIBELI SALIBA RIZEK
é doutora em sociologia pela USP e pesquisadora do Cenedic (Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania).

Cibele Saliba Rizek é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
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