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Giovanna Bartucci - 93 - Fevereiro de 2003
Psicanálise hoje
Foto do(a) autor(a) Giovanna Bartucci

As Novas Doenças da Alma
Julia Kristeva
Tradução: Joana Angélica d'Avila Melo
Rocco (Tel.: 0/xx/21/2507-2000)
240 págs., R$ 29,00

Tanto os ensaios teórico-clínicos que compõem "A Clínica", primeira parte do livro, quanto os ensaios teóricos contidos em "A História", na segunda parte, pretendem responder a indagações como: "Confrontada aos neurolépticos, à aeróbica e ao massacre da mídia, a alma ainda existe"? "Que tipo de representações, que diversidades de lógicas a constituem"?
Oriundo do diálogo entre diversas disciplinas como a psicanálise, a semiótica, a linguística, a teoria literária e a filosofia, o pensamento de Kristeva tem na crítica da noção de representação seu alimento constante. Diante da constatação de que -no que se refere aos "novos analisandos"- a dificuldade de representar constitui-se em denominador comum, Kristeva propõe que, antes de abrir-se para a linguagem do desejo inconsciente, a elaboração do aparelho psíquico passe por uma revalorização da imagem no seio da transferência. Não é por acaso que este livro encontra na reatualização do conceito freudiano de pulsão, acrescido de interações entre a semiologia e as teorias sobre linguagem com produtos culturais, o seu fundamento.


A Crueldade Melancólica
Jacques Hassoun
Tradução: Renato Aguiar
Civilização Brasileira (Tel.: 0/xx/21/2585-2000)
156 págs., R$ 20,00

A obra de Jacques Hassoun circula em torno da paixão e da melancolia, interrogando sobre o exílio e os elos entre língua materna e identidade. Uma vez que a melancolia como que evoca o luto primeiro -luto este que ele entende como "momento fundador do sujeito", constitutivo do ser-, Hassoun considera que o "melancólico lidou com uma mãe que não pôde acompanhá-lo no desmame", no luto primeiro. Sua hipótese é que o melancólico não conheceu uma experiência de perda e de um primeiro luto subjetivante -pela falta de nomeação e de designação possível desta perda por parte da mãe. É nesse sentido que podemos compreender a presença da crueldade na subjetivação melancólica: será, de fato, a colagem do sujeito com o objeto que implicará o ódio e a tentativa de destruição do mesmo. A submissão do sujeito à necessidade de assassinato simbólico daqueles que ama está diretamente relacionada à necessidade sua de constituição do "luto primeiro" -condição indispensável para que a liberdade psíquica do sujeito ocorra.


Lacan com Derrida - Análise Desistencial
René Major
Tradução: Fernanda Abreu
Civilização Brasileira (Tel.: 0/xx/21/2585-2000)
252 págs., R$ 28,00

Ainda que as descobertas freudianas tenham marcado profundamente nossa cultura, não estariam elas, simultaneamente, submetidas a um certo recalque? Face a tal indagação, e reconhecendo o lugar de mestria ocupado por Lacan e Derrida em seu percurso teórico, René Major entende que "os caminhos desbravados pelas leituras derridianas da obra de Freud e da obra de Lacan transformaram-se em caminhos que a psicanálise seria incapaz de esquecer ou excluir". Assim, a questão é como a linguagem -uma vez que fundante da subjetividade- se inscreve no psiquismo. Se, para Lacan, o inconsciente seria transindividual, referido à ordem simbólica, para Derrida, a escritura constituiria o inconsciente, funcionando, então, como um arquivo. Ao contrapor a leitura de Derrida à de Lacan, o autor tem como objetivo demonstrar como as formulações freudianas poderiam ser delineadas com o filosofema da escrita. E ao articular Lacan com Derrida, Major sugere que Lacan acabou por incorporar a tese de Derrida.


O Gênio Feminino: A Vida, a Loucura, as Palavras -Tomo 2: Melanie Klein
Julia Kristeva
Tradução: José Laurenio de Melo
Rocco (Tel.: 0/xx/21/2507-2000)
310 págs., R$ 37,00

Com certeza, o que distingue os gênios é o fato de legarem à posteridade uma obra enraizada na biografia de sua experiência. Assim, mais do que o fruto de observações empíricas de uma mãe ansiosa acerca dos próprios filhos, mais do que a repetição respeitosa dos conceitos de Sigmund Freud ou Karl Abraham, seu psicanalista, Melanie Klein inovou ao propor uma nova concepção do simbolismo. Fundada na díade dos "pais combinados", homem e mulher, pai e mãe, a teoria kleiniana faz do casal o foco da autonomia bissexual do "self", uma vez que Klein tem um lugar reservado ao pai em sua concepção do proto-Édipo. Será, no entanto, em torno da perda da mãe -o equivalente para o imaginário a uma morte da mãe- que se organizará a capacidade simbólica do sujeito. "Salvador", o matricídio possibilitará a reparação. Assim, será no amor e por meio da gratidão que o "self kleiniano" -unidade essencial do sujeito de heterogeneidade inata- se realizará.


GIOVANNA BARTUCCI é psicanalista e autora de "Borges: A Realidade da Construção" e "Literatura e Psicanálise" (Imago).

Giovanna Bartucci é psicanalista.
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